¨A missão do Pacto Global é encorajar as empresas a adotarem políticas de responsabilidade social e práticas sustentáveis. Nosso propósito é transformar as estratégias em prol do desenvolvimento sustentável de um Brasil que não deixa ninguém pra trás¨, afirma Carlo Pereira.
Com mais de 20 anos de experiência em sustentabilidade e relações institucionais, Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, traz uma visão aprofundada sobre o papel crucial da instituição no cenário nacional. Ele analisa de maneira perspicaz o impacto positivo das empresas associadas à instituição na agenda ESG e destaca as principais iniciativas que as organizações podem adotar para construir uma sólida reputação empresarial sustentável.
Confira:
– Pode nos contar um pouco sobre a missão e os objetivos do Pacto Global e, em particular, da Rede Brasil?
¨A missão do Pacto Global é incentivar as empresas a adotarem políticas de responsabilidade social e práticas sustentáveis. Isso também se aplica à Rede Brasil, que busca mobilizar empresas e organizações para integrar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em suas estratégias, contribuindo para a criação do mundo que almejamos. Nosso propósito é transformar estratégias em prol do desenvolvimento sustentável, construindo um Brasil que não deixa ninguém para trás.¨
– Quantas empresas associadas nós temos no Brasil? Para nosso orgulho somos uma das cinco maiores Redes do mundo em termos de associados, correto?
¨A Rede Brasil é a terceira maior rede do mundo e a maior das Américas. Foi criada em 2003 e atualmente conta com mais de 2 mil membros, sendo considerada a principal iniciativa de sustentabilidade corporativa do país. Os mais de 40 projetos conduzidos no país abrangem principalmente os temas de Água e Saneamento, Alimentos e Agricultura, Energia e Clima, Direitos Humanos e Trabalho, Anticorrupção, Engajamento e Comunicação.¨
– Qual é o papel das empresas parceiras do Pacto Global no estímulo à responsabilidade social e à sustentabilidade nas empresas?
¨As empresas parceiras, que chamamos de participantes do Pacto Global, utilizam seu poder de decisão e influência para abordar questões importantes no âmbito da sustentabilidade. Com isso, buscam deixar um legado dentro de sua própria organização e na sociedade como um todo. Essas empresas divulgam causas e mobilizam o setor empresarial por meio de suas redes sociais e em oportunidades públicas, como quando assinam compromissos públicos, participam de eventos, concedem entrevistas ou se dirigem a seus funcionários e fornecedores. Ao abordar esses temas relevantes, influenciam os outros pelo bom exemplo, demonstrando como sua empresa está agindo em relação à questão discutida e como os negócios evoluem conforme a operação segue os objetivos globais de sustentabilidade.¨
– Uma reputação sólida é um ativo valioso para as empresas. Como uma estratégia ESG pode influenciar positivamente a reputação corporativa?
¨Um histórico ambiental, social e de governança exemplar pode trazer grandes benefícios para a imagem de uma empresa. É uma maneira de se destacar entre os players do mercado por meio da responsabilidade sustentável. Com o aumento da priorização da sustentabilidade por parte de investidores e consumidores, destacar-se como um agente da mudança pode proporcionar inúmeros ganhos para os negócios. Além de considerar o consumo de energia e a redução de resíduos, tais práticas podem resultar em economias que impactarão os custos da organização.
Outro ponto relevante é que já existem linhas de crédito especiais direcionadas a instituições envolvidas em práticas sustentáveis. Acredito que existe um nível mais profundo de conexão entre uma empresa engajada em mudar o mundo por meio de práticas sustentáveis e seus consumidores, especialmente aqueles que compartilham os mesmos valores. Isso faz com que os consumidores preocupados com a sustentabilidade se tornem cada vez mais leais às marcas que priorizam o ESG. Essas empresas conseguem garantir um maior crescimento a médio e longo prazo, além de reter mais clientes.¨
– Quais são as principais ações que as empresas podem implementar para construir uma reputação empresarial sustentável?
¨Ter um setor ESG pulsante e dedicado a promover mudanças, se baseando na promoção e integração da sustentabilidade e da responsabilidade social nas operações da empresa é um excelente primeiro passo. E se tornar uma participante do Pacto Global, com certeza irá impactar na construção dessa reputação sustentável. Como eu disse anteriormente, temos mais de 40 projetos conduzidos no país que abrangem temas de sustentabilidade. Porém inicialmente é preciso comprometimento, porque não se trata apenas de trabalhar a reputação de uma empresa e sim tornar o mundo um lugar melhor em todos os aspectos e para todos, destacando que precisamos que nosso planeta dure, até porque não temos outra casa.¨
– Como você vê o futuro do compromisso das empresas com a sustentabilidade e a responsabilidade social? Quais tendências você acredita que ganharão mais força no futuro próximo?
¨Há muita oportunidade e risco também. Eu sempre gosto de lembrar que o Kofi Annan, secretário-geral da ONU entre 1997 e 2006, queria envolver mais o setor privado e financeiro na discussão. E aí nasceram os fatores ESG, ou seja, dentro do Pacto Global. O mercado financeiro se orienta pelo binômio “risco-retorno”, e os riscos são medidos pelos fatores. E, nesse caso, além dos fatores clássicos, ele passou a também medir os fatores ambientais. As empresas precisarão estar cada vez mais atentas a responsabilidade social e questões ambientais por uma questão lógica de pressão externa e necessidade de cuidar desses temas enquanto sociedade, pois a cada dia que passa nossa situação ecológica se agrava, e quem já está se movimentando em direção a esses tópicos, sairá na frente.¨
Sobre Carlo Pereira
Carlo tem mais de 20 anos de experiência em sustentabilidade e relações institucionais. No Pacto Global da ONU, é membro do Conselho Regional das Redes da América Latina. Também é membro de conselhos de administração de empresas. Graduado em Química, tem mestrado em Ciência (Universidade de São Paulo), MBA (University of Lüneburg) em Sustentabilidade, assim como especialização em Liderança Internacional pela GIZ na Alemanha.