“O alinhamento entre governança corporativa e gestão da reputação não apenas auxilia na superação de crises, mas contribui para a criação de valor contínuo para todos os públicos envolvidos”
Em um cenário global de incertezas, a reputação corporativa se consolida como um ativo estratégico fundamental para as organizações, indo muito além da simples mitigação de riscos. Esta visão, que conecta reputação à geração de valor e à perenidade dos negócios, encontra forte ressonância nos princípios da governança corporativa, tema no qual o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa é referência nacional.
Em entrevista exclusiva, Valeria Café, diretora-geral do IBGC, explora a relação vital e cada vez mais próxima entre governança e reputação corporativa, destacando como esse alinhamento fortalece a sustentabilidade das organizações e seu relacionamento com diferentes stakeholders. A executiva também compartilha os marcos de 2024 e as perspectivas para 2025.
Você se tornou diretora-geral do IBGC em janeiro deste ano e o Instituto acabou de realizar com sucesso o 25º Congresso IBGC. Quais foram as grandes conquistas até o momento?
Neste ano, tivemos marcos bem importantes aqui no IBGC. Realizamos o primeiro Fórum Nacional de Governança da Família Empresária e lançamos um hub de conteúdo exclusivo para esse público: o Centro de Governança da Família Empresária, com conteúdo de relevância produzido pelo Instituto e por parceiros.
Também lançamos a plataforma de conteúdo online do IBGC, a On-demand, com acesso 24 horas por dia, 7 dias da semana. Foi pensada para atender quem busca desenvolvimento profissional na jornada de conhecimento de governança corporativa.
Em junho, fomos a Manaus, para uma imersão na floresta, a Vivência Samaúma, para entendermos o papel dos conselheiros de administração na manutenção da floresta em pé. Inclusive, lançamos uma publicação riquíssima sobre este tema: “Comunidade de Aprendizado Conselheiros pela Amazônia”, assinada pelo Chapter Zero Brazil, uma iniciativa global que visa conscientizar os conselhos de administração sobre a importância dos princípios da governança climática. Nosso congresso anual, cujo tema foi Cultura de Governança, contou com 1.500 participantes, um recorde de público.
Além disso, acabamos de retornar da jornada técnica na China, estivemos presentes na COP29 e estamos ampliando nosso programa Diversidade em Conselho, para incluir pessoas negras e indígenas. Também estamos mantendo fortalecido nosso Programa para Mulheres, que conta com um percentual de cerca de 60% dessas profissionais atuando em conselhos de administração. Tudo isso só é possível porque o IBGC conta com o trabalho coletivo e engajado de nossos associados voluntários, equipe e parceiros estratégicos.
Quais os grandes desafios de 2025 para o Instituto e no âmbito da governança corporativa em geral?
Os principais desafios para 2025 envolvem questões que foram abordadas no 25º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que apontou temas essenciais para a evolução da governança corporativa nos próximos anos. Entre os temas destacados, estão a geopolítica, os riscos climáticos, a necessidade da inovação com inteligência artificial, a necessidade do constante investimento em pessoas, e a importância da diversidade, equidade e inclusão em todos os níveis da organização. Além, é claro, da importância das empresas evoluírem na jornada da boa governança corporativa, o que traz melhor performance, menos riscos e resultados sustentáveis.
Já o IBGC, manterá sua agenda de eventos e debates ao longo de 2025, com iniciativas como o Fórum Nacional de Governança da Família Empresária, no dia 8 de abril; e o Encontro de Conselhos, no dia 9 de abril, além de nossos cursos de educação continuada para conselheiros e conselheiras.
Ainda, com relação às questões governamentais, o Instituto segue vigilante com relação ao aprimoramento da governança corporativa em movimentos regulatórios e auto-regulatórios, como a resolução CVM 193 (relativo ao IFRS S1 e S2), a revisão do Novo Mercado, o Regime Fácil, a regulação do Mercado de Carbono e o Plano Clima, entre outros.
Com todos os imprevistos pelos quais o mundo vem passando, as empresas têm sido cada vez mais testadas em sua resiliência e sustentabilidade. Por outro lado, tanto a governança quanto a gestão da reputação prezam pela perenidade das organizações e pelo bom relacionamento da empresa com seu ecossistema de stakeholders. Como você vê essa relação?
A relação entre governança corporativa, resiliência organizacional e gestão da reputação assume uma importância cada vez mais estratégica para as empresas, especialmente em períodos de crise e incerteza global. Uma governança robusta atua como um pilar fundamental para a continuidade das organizações, enquanto a gestão da reputação reforça a confiança e o engajamento dos stakeholders.
Assim, a convergência entre governança corporativa e gestão da reputação torna-se essencial para fortalecer a sustentabilidade de longo prazo e a capacidade de recuperação das empresas. Esse alinhamento não apenas auxilia na superação de crises, mas também contribui para a criação de valor contínuo para todos os públicos envolvidos.
Conforme um artigo recente do diretor-executivo da Caliber, publicado pelo IBGC, algumas empresas veem reputação apenas como uma estratégia de mitigação de riscos; porém, um número cada vez maior vem percebendo a reputação como uma bela oportunidade de geração de valor. Como você percebe essa jornada de aprendizado das organizações?
A nova visão das organizações, de tratar a reputação como uma oportunidade estratégica, além de um mitigador de riscos, reflete uma mudança significativa na mentalidade corporativa. Empresas que adotam essa abordagem fortalecem a confiança dos stakeholders, consolidam a marca e obtêm vantagem competitiva. Líderes mais maduros em governança alinham propósito, marca e expectativas, integrando a reputação à estratégia com métricas e análise de dados. Essa orientação de longo prazo, promovida por conselhos e executivos, fortalece a resiliência e relevância das empresas em momentos de crise e também de estabilidade.